13/03/2012

Regina Guimarães: Ópera Europa

lançamento do livro: Ópera Europa






com a presença da autora
e de António Preto, director da colecção

17 de Março 2012 às 18h30

edição : Pé de Mosca

Livros & Companhias
(Livraria Pinto dos Santos)
Rua de Santo António, 137
Guimarães
A apresentação do livro será precedida pelo filme O Rapto da Europa (1995, 7 min.), de Regina Guimarães.


Apresentação da colecção O Rato da Europa

O Rato da Europa é uma colecção de textos inéditos que pretende desenvolver, através dos mais variados géneros e feitios, uma reflexão alargada em torno desse buraco cada vez mais fundo que é o lugar de Portugal na Europa e, porque não, o lugar da Europa em Portugal. Se o primeiro problema que se coloca é o de saber se as duas coisas – Portugal e Europa – são ou não a mesma coisa, se este confronto é ou não uma antinomia, outras questões, que daqui decorrem, passarão forçosamente pela aferição das taxas de câmbio entre representações, pela afinação da balança comercial das identidades, pela revisão das fronteiras de um horizonte europeu que se define por aquilo que propõe ou que se funda naquilo que interdita. É, pois, urgente saber se chamamos Europa a um acordo de boa vizinhança, que nos permite ir a Bruxelas pedir um raminho de salsa para a tortilha, se a Europa é um diálogo, uma abertura, uma construção colectiva, se é a Europa um projecto político comunitário ou um conjunto de normas sanitárias e de directrizes para a calibragem de maçãs, se a Europa é, hoje, terra de cavaleiros que se batem pela democracia, ou escritório onde um grupo de cavalheiros se dispõem a tudo pilhar em nome dessa mesma democracia. Necessário é averiguar se o velho continente se transformou ou não num shopping vigiado, onde os cidadãos se confundem com os consumidores, ou se Europa é, afinal, o nome do arame farpado que estendemos ao longo do Mediterrâneo.

Isto escrevi há pouco mais de dois anos quando lançámos Boomerang, de Pedro Eiras, livro que abriu O Rato da Europa e – assim acreditávamos – seria em breve sucedido por outros que completariam a colecção, multiplicando pontos de vista sobre os mesmos assuntos. Enganámo-nos: o parto da Ópera Europa foi sangrento e demorado. A Europa que aí se opera sofreu profundas transformações desde o momento em que a Regina Guimarães começou a tratar da sua concepção até ao dito parto, a ponto da Europa onde essa outra Europa se pariu ser hoje uma realidade em crise. Esgotou-se a salsa, zangaram-se as comadres e acabaram-se as verdades. Não é que seja preciso ir tão longe para vender um projecto editorial, mas certo é que O Rato da Europa recobrou “actualidade” – o que vale hoje mais do que uma novena –, tanto que a Capital Europeia da Cultura resolveu (e bem, como lhe compete) apoiar a sua impressão. Não sei o que dirão disto “os mercados”, e nem queremos convencer-nos de que o papel gasto na publicação de seis livros seja suficiente para nivelar as trincheiras económicas que por todo o lado se escavam, mas ficam algumas ideias.
António Preto

Ópera Europa, de Regina Guimarães
Porque a ideia de Europa, como a forma operática, tem esse en-canto do qual facilmente se desconfia.
Porque era impossível fixar numa matéria uniforme todas as vozes que, só na minha pouca pessoa, discorrem sobre esse assunto.
Porque eis-nos fingidamente banzados perante o cinismo dos mestres da tecnocracia e da finança que, até há escassos meses, nos vendiam, por todos os media ao seu alcance, um conceito de Europa bem sucedida, rotulada como excepção, infamemente cunhada em reversos de moeda e dotada de tradições ad hoc.
E devemos estar muito gratos aos gregos por terem, à custa de penosas privações e protestos duramente reprimidos, posto os dedos nas muitas feridas cujo sangue só parecia correr às golfadas nos novos campos de extermínio dos clandestinos e dos nómadas.
Europa publi-cidade enganosa? Europa obra desenganada? Ópera bufa.
Regina Guimarães