14/09/2011
Mariana Silva
A Kunsthalle Lissabon apresenta, no seu novo espaço na Avenida da Liberdade 211, A organização das formas, a primeira exposição individual de Mariana Silva.
Em Uma composição para dois, a dois momentos diferentes (2011), peça central da exposição, dois canais video são sobrepostos num mesmo ecrã. Uma das projecções é o vídeo de 1978 que documenta a performance Trio A de Yvonne Rainer (bailarina, coreógrafa, e cineasta), interpretada pela própria, cuja coreografia é parte da sua peça minimalista de 1968 The Mind is a Muscle. A segunda projecção consiste numa faixa de legendas baseadas no estudo de 1976 da historiadora Mona Ozouf, sobre as paradas da revolução francesa. É nestas paradas que o pintor Jacques-Louis David se destaca como um dos seus primeiros orquestradores, concebendo a participação dos cidadãos como parte integrante de um novo regime de cidadania inaugurado pela república. Por sua vez, Trio A é concebido partindo de movimentos comuns (pedestrian, nas palavras da autora), e passível de ser ensinado independentemente da formação de quem o aprende. Desde a sua participação no Judson Dance Theatre, que a recepção e crítica da sua obra, e nomeadamente de Trio A, tem vindo a debater o lado democrático do seu trabalho coreográfico minimalista.
O gesto de sobreposição conflui assim duas instâncias de movimento coreografado: as paradas públicas desenvolvidas pelo pintor da Revolução Francesa e a coreografia Trio A de Yvonne Rainer e, nesse processo, investiga a ideia de um enactment sensual de cidadania.
Une affaire de creux et de bosses (2011) é uma sessão única que terá lugar dia 18 de Outubro, às 22:00, no cinema Nimas, em Lisboa, e que prolonga a exposição patente na Kunsthalle Lissabon. O evento reúne um vídeo HD de 30 minutos e a difusão de um perfume histórico durante a sua visualização, proporcionando simultaneamente uma experiência visual e olfactiva. O vídeo consiste numa deambulação por vistas do Museu do Louvre, em Paris, e mais especificamente, pelas suas colecções de estatuária egípcia, greco-romana, medieval e barroca. As vistas são construídas a partir de um livro de estampas que retrata, em três dimensões (3D), os diversos espaços ocupados pelas colecções do museu.
Parfum à la Guillotine, desenvolvido com o perfumista Lourenço Lucena para esta sessão única, é a recriação do perfume desenvolvido durante a Revolução Francesa para combater o decréscimo de vendas que esta terá provocado. Evocando as curtas experiências de cinema olfactivo dos anos sessenta, pretende-se sobrepor à inquietação das imagens turísticas do Louvre, tintadas no azul e vermelho das primeiras experiências cinematográficas em 3D, a estranheza de um perfume criado à imagem da guilhotina.
Este evento desenvolve-se assim como uma espécie de mise en abîme de referências à iconoclastia revolucionária que fundou o primeiro museu público nos paços reais e inventou para si o símbolo da pilhagem ao serviço de uma história visual que o museu universal iria estabelecer e devolver aos povos democráticos.
Mariana Silva (Lisboa, 1983) vive e trabalha em Lisboa. Participou em várias exposições colectivas, das quais se destacam “Às Artes, Cidadãos!” (Museu Serralves, Porto, 2011), “For Love, not Money” (15th Tallin Print Triennial, Tallin, Estónia, 2011), Entrevista Perpétua” (Cristina Guerra Contemporary Art, Lisboa, 2010), “Into the Unknown” (Ludlow 38, Nova Iorque, EUA, 2010), “República ou o Teatro do Povo” (Arte Contempo, Lisboa, 2009), “BesRevelação 2008” (Museu Serralves, Porto, 2008). Foi artista residente na 5th Sommerakademie, Paul Klee Zentrum, Berna em 2010 e no iscp (International Studio & Curatorial Program), Nova Iorque em 2010.
Kunsthalle Lissabon is pleased to present, in its new space, The organization of forms, Mariana Silva's first solo show.
In A composition for two at two distinct moments (2011), the central piece of the exhibition, two video channels are overlapped on the same screen. One of the projections is the 1978 video of Yvonne Rainer performing Trio A, part of her 1968 minimalist piece The mind is a muscle. Trio A developed from pedestrian (in Rainer's own words) movements and is prone to be taught regardless of previous specialized training. Since Rainer’s work at the Judson Dance Theatre, critical reception has focused on the democratic nature of Rainer’s minimal choreographies, namely Trio A. The second channel presents a subtitle track based upon the 1976 research of historian Mona Ozouf on the parades of the French Revolution. It was through such parades that painter Jacques-Louis David conceived citizens' participation as an integral part of a new regime of citizenship brought about by the republic. Silva's gesture of superimposition thus brings together two instances of choreographed movement, that of the public parades developed by the painter of the French Revolution and Yvonne Rainer's piece Trio A, and by doing so, reflects upon the idea of a sensual enactment of citizenship.
Une affaire de creux et de bosses (2011) is a single screening which prolongs the exhibition at Kunsthalle Lissabon. It brings together a 30 minute-long HD video and the diffusion of a historical perfume, allowing for both a visual and olfactory experience. In the video, the camera pans through several views of the Louvre, in Paris, and more specifically, through its collections of Egyptian, classic, medieval and baroque statuary. The vistas are collected from a book of prints which depicts in three-dimensions (3D) the spaces of the museum’s collections. Parfum à la Guillotine, developed with parfumier Lourenço Lucena for this single screening, is a recreation of the perfume devised to counteract a decrease in perfume sales caused by the French Revolution. Evoking the short-lived sixties' experiences of smell-o-vision, in which scents were released during the projection of a film, the artist intends to superimpose the oddity of a perfume created in the image of the guillotine to the unsettling touristic prints of the Louvre, tainted by the blue and red reminiscent of the first experiments with 3D technology. This event thus develops as a sort of mise en abîme of references to the revolutionary iconoclasm that founded the first museum in a royal palace and invented for itself the symbol of pillage in name of a visual history that the museum would then establish, crystalize and return to all democratic people.
Mariana Silva (Lisbon, 1983) lives and works in Lisbon. She has participated in several group exhibitions, namely “To the Arts, Citizens!” (Serralves Museum, Oporto, 2011), “For Love, not Money” (15th Tallin Print Triennial, 2011), “Perpetual Interview” (Cristina Guerra Contemporary Art, Lisbon 2010), “Into the Unknown” (Ludlow 38, New York, 2010), “República ou o Teatro do Povo” (Arte Contempo, Lisbon, 2009), “BesRevelação 2008” (Serralves Museum, Oporto, 2008). She was a resident at the 5th Sommerakademie, Paul Klee Zentrum, Bern in 2010, and at the iscp (International Studio & Curatorial Program), New York from October 2009 to March 2010.