16/03/2007

LAVAR A ROUPA AO RIO


2º momento - LAVAR A ROUPA AO RIO
OU - LAVAGEM DA ROUPA NA POCINHA!!
Dia 17 de Março 2007, sábado, entre as 10h e as 11h
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Aparecer com uma bacia de roupa suja, branca ou de cor, e um sabão rosa!
As socas são facultativas!!
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Rascunho do texto de suporte
à primeira lavagem da roupa.
- Nov. 2006
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Em pleno Verão, no meses de Julho e Agosto (2005), quando a obra parecia completa, suspeitava-se que uma porção considerável daquele espaço serviria para festas, concertos e outras boas razões para se juntar a população da cidade do Porto em peso. Fazia lembrar (ainda agora, e com mais razões para este tipo de lembranças porque é
Inverno) uma praça da velha URRS.

À beira da nova fonte, lá para cima, na Praça General Humberto Delgado, onde no Verão ainda não se percebia se a intervenção "era só aquilo", o espaço mantinha-se igualmente amplo. De facto criou-se ali um espaço vazio, não preenchido, gigante.

Com a passagem dos meses a suspeita confirmou-se. As requalificadas Praça da Liberdade e Av. dos Aliados converteram-se numa espécie de Feira ou Salão de exposições (os conselheiros de imagem preferiram usar a expressão "sala de visitas"). Penso que as funções atribuídas àquele espaço estavam previstas desde o início pelos dois arquitectos responsáveis, no entanto, e esta parece-me ser a questão, serão estas as funções esperadas por todos nós para o espaço e serão estas funções compatíveis com as necessidades dos cidadãos que por ali passam e que ficam? Ou seja, a função de uma Praça Municipal?

Neste momento não existe ali um sítio onde se possa sentar e conviver. Existem cadeiras e mesas atadas com um "cordel" (serra-cabos) que, para além de serem feias e descaracterizadas, são bastante desconfortáveis. Futuramente existirão ali esplanadas de comerciantes privados. Desconheço detalhes sobre o tipo de contractos que serão
firmados, mas será certamente a concretização de mais uma brilhante ideia no caminho da privatização do espaço público (e, por conseguinte, da rentabilização deste) e mais um afastamento das necessidades do cidadão comum que não passam somente pelo consumo de bens ou serviços.

E já agora, vale a pena pensar nas seguintes experiências que ocorrem durante as estações do ano mais difíceis a quem por lá se movimenta ao seguir o caminho longitudinal e/ou transversal: no verão o nosso granito, material tão característico na construção da cidade do Porto, reflecte e fere os olhos, no Inverno não há nenhum obstáculo a atenuar o vento e frio.

No meio de um certo azedume e de muitas reservas em relação a esta "novidade", conforta-me ver quem se arrisca a pisar a "linha" traçada pelos arquitectos. O alvo principal tem sido a fonte – também lhe chamam "tanque", "poça" ou "pocinha", "bebedoro", e outros nomes que não me recordo – e é curioso o modo como se vai recriando a função daquela "peça" de arquitectura. No verão os miúdos entraram dentro da água e fizeram da fonte uma piscina Municipal. O mais admirável foi assistir às primeiras aulas de natação de uma miúda ainda suportada por braçadeiras!
Parecem os mesmos miúdos que andavam pela praça D. João I e pela Batalha a banharem-se nas águas quentes. São outros, mas com o mesmo espírito e com a mesma intenção, a de habitar livremente o espaço.

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No outro dia, quando ainda estudava a fonte e a minha resposta a este projecto, deparei-me com um cartaz em tecido da Rivolição dentro da água e isto levou-me à seguinte questão: que espaço terá RR deixado para a Cultura? Para aquilo que quando acontece nos deixa perplexos, que nos custa a digerir de imediato, que nos faz pensar e sentir de modo diferente, que nos toca e comove sem termos explicações que
justifiquem, que nunca nos deixa indiferentes, que nunca nos deixa iguais ao que éramos quando chegamos?

É caso para perguntar: "O que se passa consigo RR, acha bem que o público não assista a bons espectáculos?"

Os nossos impostos seriam bem empregues se o público fosse sensível à programação de espectáculos com qualidade. Aliás, por comodidade, por questões pessoais de limitação cultural, o RR direcciona-se no sentido do nivelamento cultural, ou seja, alimenta o povo pelo nível mais baixo estando, aparentemente a ser sensível às suas exigências mais básicas de folia!!!
Este sentido é negativo e significa um enorme retrocesso em tudo aquilo que esta cidade conseguiu conquistar nos último tempos pós 2001.

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Por esta razão pretendi lavar a minha roupa suja no tanque do RR e seguir o mesmo impulso que os protagonistas dos meus exemplos (acima referidos) seguiram, usar livremente este espaço público tendo no entanto segura uma intenção, a de poder estar também a comentar as medidas tomadas por RR. Recorri a alguns momentos importantes vividos na minha infância para alicerçar a minha acção: as idas ao rio ou
ribeiro lavar a roupa (mais tarde ao tanque Municipal) e os infindáveis momentos de conversa entre mulheres que expunham ali a sua vida privada. Sei que hoje ainda existem os tanques Municipais onde muitas mulheres se reúnem para lavar e conversar.

Aproveitei a falta da máquina de lavar roupa em casa e a vontade de lhe querer dizer algumas "verdades" para me meter na água gelada, debaixo de chuva e granizo, e lavar algumas peças de vestuário.

Gostaria muito que o Arquitecto Siza soubesse, um dia destes, que me deu muito jeito fazer uso do tanque que ele concebeu seguindo o modelo parisiense dos Campos Elísios, para efectuar a tal lavagem e que estou a pensar em dar lá um mergulho no Verão com a rapariga das braçadeiras. Não por gostar da sua intervenção, mas porque está mesmo
ali a precisar de um empurrão para ser usada. No meio disto, gostaria que ele fosse também informado (mas não para lhe endereçar culpas) que já não há nada no Rivoli que valha a pena ver, que vai para lá agora o La Féria.
ISABEL CARVALHO

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