Gisele Wolkoff (CES)
11 de julho de 2012, 17h00, Sala 2, CES-Coimbra
“Aprendemos a duvidar da sabedoria do coração (…) A poesia, a pintura, todas as artes (…) são experiências de nós mesmas (…) Há algo de errado em ser poeta hoje?”. Eis alguns dos mais relevantes excertos do ensaio “Clearing the Space: A Why of Writing”da poeta irlandesa Anne Le Marquand Hartigan, para o quê poderíamos responder que pode haver algo de errado se a poeta for mulher. E, dando continuidade a uma reflexão acerca daquilo que se poderia considerar uma poética feminina, tendo em vista uma vasta lista de autoras contemporâneas, este seminário conclui algumas das etapas que guiaram a pesquisa “Irlanda e Portugal: identidades representadas na poesia feminina dos anos 1960 em diante”, sobretudo, no que se deveu à análise de referenciais estilísticos das obras, comparativamente, a responder a dois momentos históricos (em Irlanda, fins da década de 1960, com as primeiras publicações poéticas inovadoras, com autoras como Eavan Boland, Medbh McGuckian e a própria Anne Hartigan; e em Portugal, início dos anos 1970, com a repercussão no cenário poético das Novas Cartas Portuguesas, as Três Marias e todas as outras que as sucederam). Além dos elementos estilísticos que apontam à figuração de possíveis poéticas femininas, nota-se a disposição distinta de temas comuns, o que sugeriria tanto preocupações sociopolíticas convergentes, quanto espaços de pertencimento em intersecção. No entanto, há também os existires (femininos) divergentes. Tanto uns (de intersecção) quanto outros (de divergência) constituiriam, assim, o espaço entre, o ser-poeta-mulher no assumir das fronteiras de uma pós-modernidade que ainda exige localismos e identidades nacionais claras.
Gisele Giandoni Wolkoff é pós-doutoranda no Centro de Estudos Sociais/FCT. Organizadora e tradutora de "Poem-ando Além-Fronteiras: dez poetas contemporâneas irlandesas e portuguesas" (edição bilingue), Coimbra, Palimage, prepara atualmente o volume "Mundos em palavras: conversando com poetas".