01/03/2006
O TOQUE DE MIDAS
O Toque de Midas
“O texto é um objecto fetiche e esse fetiche deseja-me.”
Roland Barthes “O prazer do texto”
“O escrito chega como o vento, é nu, é tinta, é escrito, e passa como nada passa na vida, a não ser ela, a vida.”
Marguerite Duras “Escrever”
Aqui não há pessoas, não há uma sala, nem um escritório, nem um quarto, apenas as palavras que lá ficaram ou lá vão estar. Aqui não corre o tempo. Aqui ninguém fez amor, ninguém comeu, ninguém dormiu. Aqui ninguém foi embora, ninguém ficou. Aqui ninguém viveu nem morreu. Aqui só se leu e escreveu.
Apenas palavras, devoradas ou cuspidas, substituem o outro, substituem os lugares, substituem o próprio correr do tempo, com um poder tal que o objecto não nomeado, o acto não narrado, o lugar não descrito, o amor não declarado deixam de existir.
Carne tornada verbo. Depois da palavra o acto torna-se obsoleto.
É o “toque de Midas”.
Fora do texto – nada.
Catarina Sousa.
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